terça-feira, 29 de setembro de 2009

Quanto vale a vida?

Quando vale a vida?
Por Lúcio Manga!


Pagar pedágio. Paguei seis esse fim de semana. Fui a Sana, um lugar insano e interessante. A estrada do mesmo jeito das idas ao Rio. A diferença o preço. O risco, logo, a vida. O custo, logo, o dinheiro. Incrível como se é conduzido por uma determinação estabelecida. Que coloca o cidadão como refém de empresas que exploram o que ganhamos com trabalho e, mais, cobram dentro da cobrança que já há nos impostos: ordens superiores, e nada de desordens interiores. Povo passivo, pedágio abusivo. Ditadura social, e o povo a pagar.

Então, hoje, resolvi falar de pagar. O preço de tudo ao nosso redor custa tão caro que a gente trabalha. Engolidos pelo dia a dia. São horas da vida em que se está refém da possibilidade de felicidade. O trabalho não enobrece o homem, mas o coloca na condição de comer e sobreviver, e, se der, curtir um fim de semana. Dentro, é claro, das possibilidades econômicas. Felicidade é o futuro do que se pode ser para poder comprar o que se quiser. É o pedágio da vida. Cada passo, um preço.

O problema são os juros. Stress, dor de cabeça, cansaço, hipertensão, câncer, e o senso de inutilidade que o tempo vai fornecendo. Por tudo isso a gente estuda e luta feito louco. É a realização do absurdo. E há milhares de seguidores até mesmo quem trabalha no que não dá nenhum retorno. Estão lá na labuta. Insanidade? Ora, se se parar para pensar que as coisas são vendidas, não há como ser de outra maneira, compra-se. Às vezes, à prestação. Para pagar por um longo tempo. Até acontecer de a coisa acabar e o pagamento ainda estar na metade. A necessidade de consumo é maior que a necessidade de vida.

Ninguém nunca discutiu o valor da vida. A educação busca, no fundo, algo objetivo. Concreto. Aliás, as escolas colocam isso como uma etapa de evolução... Olha, ele agora já é um homem responsável... Olha, ela entrou no mercado de trabalho... Sempre foi boa aluna. Aplicada. E eu sei que é isso mesmo. O sistema. Mas, está errado. Essa situação construída está errada, porque o retorno é pequeno. O prejuízo é muito maior. Não vou fazer isso, mas some aí o tempo de trabalho e divida pelo que ganhou que perceberá que o custo foi muito alto. Não deu para pagar o que se perdeu ao longo do tempo, em uma jornada de trabalho.

Nesse roteiro do absurdo real, há os que pagam mais pela vida. A vida é tão incrível que há vários postos de pedágio. E a conexão é a mesma. Sem reformas nas estradas. Nos caminhos que se percorre ao longo de tudo que vivemos. Não há como escapar. Não há estradas laterais, não há como burlar. A vida fica ali, feito viatura policial que só pára carro suspeito. E, quando a vida suspeita que você esteja passando a perna na própria vida, ela mostra as garras e aí é multa.

Desse modo, caro leitor, nem adianta entender essa lógica. Criou-se um meio de deixar a vida mais complicada. Tudo tem um preço. O estacionamento do shopping – compre, compre e pague para deixar o carro aqui enquanto compra, compra, compra... -; o estacionamento do hospital – morra antes de três minutos ou pague o estacionamento -; a pipoca do cinema – tem roubo mais absurdo do que aquilo, e o pior que muitas pessoas ficam com vergonha de não comprar nada... e compram a pipoca -; deus, esse então, vendido em emissoras de TV – com estratégias apelativas que deveriam por na cadeia aqueles pastores do crime armado contra a condição humana. Até isso permitimos à venda. Não há parâmetros para o lucro.

Isso tudo é tão verdade que, se você perguntar a uma pessoa o que ela faria se ganhasse na mega sena acumulada, a resposta é direta: pararia de trabalhar. Então fica esse paradoxo do ser humano que busca com muito esforço o próprio fim. E olhe que não estou querendo fazer uma apologia contra o trabalho. Mas contra quem – e eu também estou nessa loucura – não faz um plano de trabalhar menos e viver mais. Essa deve ser a meta desse século. Do contrário, será um pedágio eterno. Tudo com um preço único. Uma tarifa só: você.

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