segunda-feira, 30 de maio de 2011

Saudade!

"Quem não tem medo da vida também não tem medo da morte."
Arthur Schopenhauer

Sei que estou sumido há um bom tempo. Bem, Acho que perdi o jeito para escrever. Tem um amigo meu que adorou a crônica em que falo sobre o meu gosto pela cerveja. Curiosamente, esta foi a última crônica que escrevi. Brinco dizendo que este foi o meu "triller" e agora não consigo fazer nada melhor ou igual. Nada parece bom o bastante.

Mas, para alegria de alguns e tristeza de outros, ultimamente aconteceram coisas das quais eu sinto que preciso falar, escrevendo mal ou bem, não importa.

Recentemente perdi dois grandes amigos. O primeiro foi o Argos, me cachorro. Ele já estava doente há um bom tempo. Já tinha idade avançada, apesar de parecer muito pouco pra mim. Infelizmente os cães vivem pouco, principalmente os grandes. Guinho, como eu o chamava, era um boxer. Lindo! As pessoas não o achavam muito bonito, mas para mim era uma das criaturas mais lindas do mundo!

Guinho chegou em casa novinho. Lembro-me bem da primeira vez em que o vi, foi amor à primeira vista. Ele não era um cachorro normal, para mim sequer era um cachorro. Parecia mais uma criança atrapalhada. Na verdade ele parecia o Scooby Doo.

No meu pouco tempo de existência, eu já tive alguns cães. Mas este foi o primeiro que eu pude dizer que era meu mesmo, pois quando o ganhei eu já tinha maturidade o suficiente para cuidar de outra vida. Eu acho que eu tinha. Acreditem, cuidar de outra criatura é uma tarefa difícil. Precisa passear, dar banho, comida, brincar, ou seja, precisa de muito tempo, amor, carinho, dedicação. Acho que pude dar tudo isso a ele.

Quando Argos se foi, o veterinário disse que ele já tinha o equivalente, em idade canina, à idade de um senhor de oitenta anos. Mas continuava com cabeça de criança, apesar de não ter mais a mesma energia. O amigo mais leal que alguém pode ter. Ele que vivia fazendo arte, nunca ficava com raiva de mim ou de ninguém mais da família quando brigávamos com ele. Animais não têm vergonha de demonstrar sentimentos e, por isso, você consegue sentir um amor puro, sem restrições, que você dificilmente consegue receber de humanos. Não que as pessoas não sintam amor, mas elas parecem ter medo de dizer o que pensam e sentem. Isso é terrível, porque quando vão embora deixam angustiados os corações que ficam sem saber se foram bons o bastante. Eu fico tranqüilo, porque sei o quanto o Argos me amou e sei que ele partiu sabendo o quanto todos da casa o amaram também. Até mesmo o meu pai, que é o mais durão da família e o que chamava a atenção quando precisava, foi quem cuidou do Argos nas ultimas semanas de vida, fazendo tudo o que podia para que ele melhorasse e não sofresse tanto. Infelizmente eu estava longe.

Argos era aquele estranho que acabou sendo parte da família, um honorável membro da aliança. “Um por todos e todos por um”! Através dos anos, dos bons e maus dias, através das estações de esperança e mudança, ele também cuidou de nós! Um parceiro silencioso, calmo e engraçado. Um parceiro leal, fiel, amigo de verdade. O primeiro a me receber quando eu chegava em casa, com tanta saudade e euforia que parecia que iria explodir. O primeiro a me parabenizar pessoalmente quando passei no vestibular. Aquele que ficou olhando pelo portão no dia em que fui para a faculdade. Minha mãe disse que ficou ali durante horas, não comia, não brincava. Sem dúvida, o melhor amigo do homem!

Uma semana depois, perdi o meu tio Clóvis, irmão da minha mãe, que também estava muito doente. A dor que já estava no meu peito se quadruplicou! Não é falta de fé, mas acho que a morte carrega tanta dor, não só porque perdemos alguém, mas porque temos medo do dia em que alguém irá nos perder. Tudo que é desconhecido assusta. Não recordo de nada que possa ser tão desconhecido quanto a morte. A fé também fica abalada, começamos a questionar muitas coisas, mas logo ela volta, pois a precisamos buscar para conseguir algum tipo de conforto.

Meu tio era um cara fantástico! Não consigo me recordar de nenhuma vez sequer que ele tenha brigado comigo ou levantado a voz pra mim, e olha que não levantar a voz pra mim era uma tarefa difícil na me infância, pois eu era terrível! Era uma pessoa tranqüila, serena, engraçada e muito divertida. Falava muita besteira e eu aprendi muita coisa com ele! Hehe. Muitas coisas que eu falo hoje nas rodinhas de amigos foi ele que me ensinou.

Tio Clóvis não era só o meu tio. Quando eu ainda era recém nascido, ele me segurou em seu colo enquanto o padre jogava óleo em minha cabeça e me abençoava com o batismo. Ele me apadrinhou, fortalecendo ainda mais os nossos laços de família. Meu tio esteve sempre presente e, inclusive, era quem, às vezes, ficava encarregado de cuidar do Argos pra mim quando a família ia viajar.

Sempre vou me lembrar daquele barrigão e daquele bigode à La “Village people”. Rs. A sua voz e sua lembrança ficará pra sempre fresca em minha memória.

"Sentimos a dor mas não a sua ausência."